Aqui, com a autorização dela, publico a entrevista que fez comigo.
Qual a sua relação
com a moda?
Primeiro, é um hobby. Nas (poucas) horas livres, gosto de ler
ou ver programas sobre moda. Gosto de me inteirar sobre as tendências, mas, na
verdade, o que mais me encanta são “estilos”, não a moda em si. A moda pode ser
passageira, mas o estilo fica. Depois de Coco Chanel, por exemplo, a mulher se
libertou de uma moda desconfortável. Encanta-me a história de vida e a audácia
dessa estilista, que, no início do século XX, inspirou-se no guarda-roupa
masculino e simplificou a moda feminina. Ela ainda é atualíssima! Não quer
dizer que, a depender da ocasião, eu não queira buscar uma referência mais “extravagante”,
mais Dior. Também curto as inspirações clássicas do cinema: Grace Kelly, Audrey
Hepburn... Mas sempre como referência; aí é que entra a moda: acho bacana
misturar algo clássico com uma peça mais tendência, para não ficar totalmente
vintage.
Nossa, falando assim até dá impressão que dá para pensar
nisso todo dia! Na realidade, o dia a dia é muito corrido, então, muitas vezes,
o que resta é vestir uma calça, camisa e sapatilha para não ter erro. Mas eu
gosto de “brincar de estilo”, então, passei a ter prazer em prestar um pouco
mais de atenção nisso, pelo menos em ocasiões especiais. Descobri que pode ser
bem agradável integrar o look com a paisagem, então, se tenho um passeio legal
para fazer, penso em algo que “represente” a ocasião. É uma brincadeira comigo
mesma, nada muito sério, então, torna-se até rápido e natural. No entanto, na
hora da pressa, não tenho pudores em sair de casa bem básica. Enfim, a moda
para mim é uma brincadeira prazerosa, mas não uma obrigação.
O que você pensa
sobre a influência dos blogs de moda no modo de consumo das pessoas?
Eles têm influenciado para o bem e para o mal, acho. Para o
bem, porque tornam acessíveis as informações sobre moda e estilo, todo mundo
pode aprender um pouco consultando os blogs e ir criando o seu próprio estilo.
Além do mais, a depender do comprometimento e isenção de cada blogueira, as
informações podem ser menos mercadológicas. Para o mal, por outro lado, porque
muitos blogs viraram uma indústria e uma imposição. Brinco que é a “imposição
do must have”. E digo que “must have” é vocabulário que não visto.
Quando bem feitos e bem intencionados, os blogs podem trazer ótimas inspirações
e ajudar as leitoras a descobrirem seu próprio estilo.
Você visita blogs de
moda? Para quê?
Eu visitava mais quando trabalhava como jornalista em
revistas voltadas para o universo feminino, afinal, a moda é um dos interesses
desse público. Atualmente, desde que me foquei totalmente na carreira
acadêmica, visitar os blogs se tornou algo mais para os momentos de lazer.
Quando possível, ainda gosto de buscar inspirações neles ou, num movimento complementar,
lê-los de maneira crítica, já que não deixam de ser um corpus para entender a sociedade. Quando a gente é pesquisadora,
tudo acaba se tornando uma fonte de pesquisa. Eu estudo discursos, e a moda não
deixa também de ser um.
Você tem um blog. Como surgiu a ideia de criar um?
Em janeiro de 2008, criei o Liquimix, o qual migrei para a
plataforma blogspot em dezembro de 2009. É o meu blog sobre “tudo”, um mix de
assuntos: cinema, linguagem e, hoje em dia, muito sobre viagem. Exatamente no
dia 15 de agosto de 2010, criei o Estilo Fashion Mix, que tem esse nome por ser
o irmão caçula do Liquimix, especialmente para fazer alguns registros
relacionados a estilo e ao mundo fashion. A data indica, portanto, que ele é um
pouco mais antigo que esse boom de
blogs de moda que acabou acontecendo depois. Mas eu nunca quis que ele perdesse
sua essência, e essa é uma das razões por ele não ter se profissionalizado,
além do fato de que realmente foi uma escolha: minha profissão é a de
professora e pesquisadora; o blog é meu hobby.
Como você pensa nos
posts para o blog?
Meus posts são bem simples. Registro looks que agradam a mim
mesma como se fosse um “livro de memórias”. Eu já fazia isso com a fotografia,
então, só passei a aproveitar a nova plataforma. Como não o profissionalizei,
meu número de visitantes é pequeno. Então, meu compromisso é mais comigo mesma:
posto quando dá vontade. Às vezes, penso que seria bom ter leitoras assíduas,
que seriam um incentivo para postar mais. Por esse ponto de vista, eu gostaria
de conseguir dar mais atenção ao blog, especialmente ter mais qualidade técnica
na fotografia (quem me socorre é o marido).
Minhas postagens têm relação com minha visão de consumo. Sou
ponderada até demais com meus gastos, então, gosto muito quando uma peça rende
vários looks. Tenho peças antigas que rendem muito. Se coubesse a mim
transmitir uma mensagem sobre moda, seria a de que é possível curti-la de uma
forma agradável, sem estragos na conta bancária. Até porque o mais interessante
é construir estilos, e isso não são as vitrines que impõem.
Dentre os posts do
meu blog, gosto, por exemplo, de alguns sobre passeios em Campos do Jordão,
tenho uma relação especial com a natureza dessa cidade. Tem um post que chamei
de Bucolic funny day no qual uso um vestido comprado em 2006, e o vestido ainda está aqui, lindo,
firme e forte (me lembro até hoje quando fiz a comprinha desse vestido, com um
dos meus primeiros salários como jornalista de revista).
O que prego sobre consumo tem muito a ver com o que escrevi
no post Feliz com duas bolsas na mala. No entanto, meu movimento de vida foi um pouco inverso ao do
“Um ano sem Zara”. Não preciso me esforçar muito para ponderar meus gastos,
porque, como eu disse, é uma característica minha ser ponderada com as finanças,
é natural de minha personalidade. Vivi a adolescência nos anos 90, quando a
inflação ainda corroía tudo, então, de modo geral, não era possível pensar
muito na beleza do que vestir; ter alguma coisa já era luxo. Hoje, a sociedade
tem mais poder de compra e, claro, a indústria do consumo se aproveita disso.
Então, às vezes, eu preciso até me dizer que mereço algo, aprendi a me permitir.
Também acho natural poder consumir um pouco mais quando se passou dos 30 anos
de idade, porque é a idade em que você também atinge maturidade profissional. É
até meio contraditório que existam tantos blogs de adolescentes e poucas opções
de consultoria para mulheres de 30, 40, 50 e mais. Penso que sejam faixas menos
exploradas do que deveriam pelos setores de moda: essa mulher mais madura tem
estabilidade financeira para consumir mais e melhor.
Sobre o que você
escreve no seu blog? E do que mais gosta
de escrever?
Minha tag preferida do Estilo Fashion Mix é a “Viagens e
Passeios” por integrar look e cenário. Por gostar muito de escrever sobre
viagens, tenho me dedicado mais ao blog Liquimix do que ao Estilo.
Embora goste de escrever, acredito que blog de moda seja
muito visual, precise muito da imagem. Quase sempre, não acho necessário
“explicar o look”, gosto que ele possa dizer por si mesmo. Jornalista que sou,
nem sempre consigo conter palavras.
Quando você escreve
no blog pensa que pode influenciar positivamente ou negativamente outras
pessoas?
Acho que não influencio muito pelo pouco número de leitoras
que tenho. Mas, supondo que eu pudesse influenciar, creio que a influência
positiva seria tentar transmitir essa ideia de que moda pode caminhar junto com
sustentabilidade e finanças em dia. Consumindo com consciência (tanto em termos de
finanças quanto de recursos da natureza), qual o problema? Acredito que moda e
estilo sejam muito mais do que futilidade (como alguns podem pensar),
afinal, é uma imagem que passamos, também é um discurso.
Uma influência negativa dos blogs em geral, acredito, é o
potencial para estimular o desejo desenfreado de consumo. Mas é tudo questão de
ponderação: parece-me que as fast fashion têm feito isso, especialmente com as inúmeras coleções assinadas em parcerias com estilistas, que
transmitem a mensagem de que você precisa comprar uma roupa nova toda semana,
não importa quão pouco exclusiva ela seja. Se você consumir tudo que elas
oferecem, terá um guarda-roupa efêmero, eternamente renovável.
Você é influenciada
pelos blogs que lê?
Eu filtro bastante. Nem perco tempo com blogs que parecem
apenas divulgar marcas. Em 2011, acompanhei o projeto da Joana Moura no blog “Um ano sem Zara”, no qual ela utilizou a Zara como metáfora para passar um ano
sem comprar e, assim, restabelecer as finanças pessoais. Por isso, comentei
acima que meu movimento, pela minha característica, é um pouco o contrário
desse blog. Atualmente, a Joana segue buscando um consumo consciente e conta
que recuperou as finanças. Gosto do tato dela para a moda, acho que tem muito
feeling.
Também leio o “Princesas Modernas”, projeto da Jô, de quem
fui colega de trabalho e, até por isso, conheço a seriedade dela. Ela tem bom gosto
e análises críticas e consistentes (por exemplo, sobre as coleções das fast
fashion) que podem ajudar a ponderar nossas compras.
Acredito que os melhores blogs podem servir de inspiração,
mas não para ditar regras. Afinal, o legal é cada pessoa buscar seu próprio
estilo. Também gosto muito de ler livros sobre moda, então, nem perco meu tempo
com blogueira que não estuda. Quando posso, também participo de eventos como
desfiles, além de workshops e cursos.
Na sua opinião, qual
a razão da grande influência dos blogs?
Acredito que tenha relação com o avanço das mídias digitais
em geral. A informação sobre moda se tornou mais acessível com a blogosfera.
Antigamente, imagem pessoal era assunto de quem podia pagar por uma consultoria
de moda. Hoje em dia, se a pessoa buscar referências nos blogs, cruzar
informações e procurar aguçar seu próprio feeling, ela consegue desenvolver um
estilo próprio. Mas a pessoa precisa ter personalidade, porque, se copiar a
blogueira X, corre o risco de seguir um estilo que não é o mais favorável a ela
própria. Os blogs influenciam, mas acho que o melhor consultor ainda é o
espelho. Houve vezes em que imaginei uma combinação interessante de peças e,
quando experimentei diante do espelho, percebi que não ficava bem, ou porque
não valorizava minhas características, ou porque não falava a linguagem que eu
pretendia.
Giovanna Falchettto é estudante do curso de Jornalismo da Unesp de Bauru.
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